Hoje contemplamos a beleza de Maria Imaculada. O Evangelho [Lucas 1, 26-38], que narra o episódio da Anunciação [do anjo a Maria, revelando-lhe o desejo de Deus de que ela fosse mãe do seu Filho, Jesus], ajuda-nos a compreender o que festejamos, sobretudo através da saudação do anjo. Ele dirige-se a Maria com uma palavra que não é fácil de traduzir, que significa «repleta de graça», «criada pela graça», «cheia de graça». Antes de a chamar Maria, chama-a cheia de graça, e assim revela o nome novo que Deus lhe deu e que lhe é mais próprio do que aquele que lhe foi dado pelos seus pais. Também nós a chamamos assim, a cada Ave-Maria.
Que quer dizer cheia de graça? Que Maria está cheia da presença de Deus. E se é inteiramente habitada por Deus, não há nela lugar para o pecado. É uma coisa extraordinária, porque tudo no mundo, infelizmente, é contaminado pelo mal. Cada um de nós, olhando para dentro de si, vê lados obscuros. Mesmo os maiores santos eram pecadores e todas as realidades, até as mais belas, estão afetadas pelo pecado; todas, exceto Maria. Ela é o único “oásis sempre verde” da humanidade, a única não contaminada, criada imaculada para acolher plenamente, com o seu «sim», Deus que veio ao mundo e iniciar assim uma história nova.
De cada vez que a reconhecemos como cheia de graça, fazemos-lhe o maior dos cumprimentos, o mesmo que fez Deus. Um belo cumprimento que se faz a uma senhora é dizer-lhe, com delicadeza, que mostra ter uma idade jovem. Quando dizemos que Maria é cheia de graça, em certo sentido também dizemos isso, ao nível mais alto. Com efeito, reconhecemo-la sempre jovem, porque nunca envelhecida pelo pecado. Só há uma coisa que faz verdadeiramente envelhecer, envelhecer interiormente: não é a idade, mas o pecado. O pecado torna a pessoa velha porque esclerosa o coração. Fecha-o, torna-o inerte, fá-lo desvanecer-se. Mas a cheia de graça é vazia de pecado.
A Igreja congratula-se hoje com Maria chamando-a “toda bela”, “tota pulchra”. Como a sua juventude não está na idade, assim a sua beleza não consiste na exterioridade. Maria, como mostra o Evangelho deste dia, não se destaca pela aparência: de uma simples família, vivia humildemente em Nazaré, uma cidadezinha quase desconhecida. E não era famosa: mesmo quando o anjo visitou ninguém o soube, naquele dia não estava lá nenhum jornalista. Nossa Senhora também não teve uma confortável, mas preocupações e temores: foi perturbada (cf. V. 29), e quando o anjo se retirou de junto dela (cf. V. 38) os problemas aumentaram.
Todavia, a cheia de graça viveu uma vida bela. Qual era o seu segredo? Podemos colhê-lo olhando ainda para a cena da Anunciação. Em muitas pinturas Maria é retratada sentada diante do anjo com um pequeno livro na mão. Este livro é a Escritura. Dessa forma Maria costumava escutar Deus e conversar com Ele. A Palavra de Deus era o seu segredo: próxima do seu coração, tomou depois carne no seu ventre. Permanecendo com Deus, dialogando com Ele em qualquer circunstância, Maria tornou bela a sua vida. Não a aparência, não aquilo que passa, mas o coração apontado para Deus torna a vida bela. Olhamos hoje com alegria para a cheia de graça. Peçamos-lhe que nos ajude a permanecer jovens, dizendo «não» ao pecado, e a viver uma vida bela, dizendo «sim» a Deus.
Papa Francisco
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad.: SNPC
Publicado em 08.12.2017