Contar a vida de uma pessoa consagrada ou colocar jovens diante de quem decidiu dedicar a vida a Deus: é uma experiência que parece suscitar um notável interesse mediático. E pode ser relevante também em contexto educativo e pastoral, sobretudo em relação com o sínodo dos bispos sobre os jovens, que o papa Francisco convocou para outubro do próximo ano, no Vaticano, e que terá no centro das atenções o tema das vocações.
“Maus hábitos, ordens sagradas”
Cinco “party girls”, bastante maquilhadas e com roupa sucinta em comparação com a das religiosas, foram acolhidas pelas “Filhas da Divina Caridade” no convento de Swaffham, no Reino Unido, durante duas semanas, sem telemóvel, maquilhagem, festas ou agitações de qualquer espécie. As jovens inseriram-se na vida das irmãs e ajudaram-nas nas suas atividades.
Os quatro episódios de “Bad habits, holy orders” (“Maus hábitos, ordens sagradas”) começaram a ser emitidos a 19 de outubro no Channel 5, seguindo as vivências destas jovens insatisfeitas com a sua vida e que, sem o saberem, foram conduzidas ao convento. O propósito do programa «não é apontar o dedo aos jovens, mas é uma forma de colocar algumas perguntas sérias sobre como vivemos a nossa vida», explicou Guy Davies, o editor.
Retrato realístico
É a primeira vez, realçou o gabinete de imprensa dos bispos, que as câmaras de televisão entraram num convento inglês. E foi talvez a primeira vez que à frente e atrás das câmaras só houve mulheres. Umas de vestes longas, outras de mini-saias…
«Foi dito às jovens que iriam começar um caminho espiritual, mas não onde. Foram trazidas aqui uma a uma e quando descobriram que era um convento ficaram muito surpreendidas», afirmou a irmã Francis Ridler, que também dirige a escola administrada pelas religiosas.
As jovens envolveram-se em tudo nos dias das irmãs. «É um retrato muito realístico, e mesmo que haja momentos difíceis, pensamos que dá uma imagem honesta e positiva da Igreja», comentou a religiosa.
Um dos problemas mais complicados foi quando se descobriu que uma das jovens levou uma garrafa de vodka, que após longa discussão acabou no esgoto. «Desagradou-me tanto o desperdício quanto o facto de a ter trazido para o convento», contou, a rir, a religiosa.
«Este programa levou a vida das irmãs às casas e ajudará a compreender melhor o que fazemos e de que coisas nos ocupamos. E pareceu-nos que também para as jovens a experiência foi significativa», acrescentou.
Tornando-se irmãs…
O mesmo número de jovens tinha entrado num convento o ano passado, em Espanha, seguidas pelas câmaras do programa “Quero tornar-me irmã”, transmitido pelo canal espanhol Cuatro, a partir do formato norte-americano “The sisterhood: becoming nuns”. Neste caso foram três as casas religiosas a acolher o projeto, em Madrid, Alicante e Granada.
A diferença com o programa inglês foi que em Espanha as jovens estavam em processo de interrogação sobre o compromisso na vida religiosa. No final dos seis episódios, duas decidiram consagrar-se a Deus.
«Foi uma aventura única. Uma viagem de maturação destas cinco jovens que iniciaram a experiência cheias de dúvidas e perguntas e a concluíram com a certeza de ter obtido uma resposta a algumas das suas perguntas», escreveu o produtor no final da série.
Vídeos nas redes sociais
Se até há duas décadas era quase normal cruzar a vida de religiosas ou padres e saber pelo menos alguma coisa da sua missão, hoje, com menor número de vocações consagradas e vidas que crescem com cada vez menos oração e vida paroquial, nem sempre é simples ou dado como adquirido saber o que acontece concretamente a uma pessoa que opta por se dedicar a Deus em permanência.
É por isso que jovens religiosos da Áustria decidiram lançar, através das redes sociais, um conjunto de breves vídeos em que duas irmãs e dois frades de quatro ordens religiosas contam a cada dia um pouco da sua vida e mostram o seu quotidiano.
O projeto começou a 4 de outubro, referindo cada um de onde vinha e o início do seu chamamento por parte de Deus. «A curiosidade das pessoas pela vida religiosa é grande», sublinhou Ferdinand Kaineder, diretor do gabinete de imprensa da União das Ordens Religiosas.
Os quatro, todos com menos de 35 anos, contam, por exemplo, como se sentiram quando vestiram o hábito pela primeira vez, como rezam, como usam o WhatsApp e como se vive em comunidade.
Valerie e o padre
Menos fílmico mas igualmente próximo é a forma como, na Alemanha, durante um ano, Valerie Schönian, uma jovem jornalista, seguiu e narrou num blogue e com pequenos vídeos a vida de um jovem sacerdote, Franziskus von Boeselager, e através dos diálogos e encontros falou do significado da vida de fé.
Foi uma ideia da Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal alemã a série “Valerie e o padre”, que finalizou em agosto. O projeto deveria terminar aí, mas por causa do interesse suscitado a jornalista passou o testemunho a um jovem colega, Timm Giesbers. Este, que se encontrava desligado da Igreja, foi atraído pela possibilidade de a compreender mediante histórias de quem a «vive», em vez de só a conhecer no «plano teórico».
Assim, semana após semana, filmou a sua vida em Frankfurt juntamente com as irmãs do Sagrado Coração que se ocupam dos sem-abrigo, para procurar antes de tudo entender o porquê daquele modo de viver.
Sarah Numico
In SIR
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 14.12.2017