Em dia de ordenações na Catedral do Porto, D. Manuel Linda, afirmou que “o padre não pode ser um cogumelo”, que não tem raízes, pois deve “absorver os valores e a espiritualidade do seu povo”. O bispo do Porto afirmou que os padres “cogumelos não se relacionam com o povo”. Pediu aos novos presbíteros para rezarem sempre, serem caminhantes a nível emocional e escutarem o povo partilhando com o coração
Por Rui Saraiva
Catedral cheia. Momento intensos. Esperança nos corações. Quatro presbíteros e um diácono foram ordenados no domingo dia 8 de julho na Catedral do Porto. Homens que se entregam ao serviço do povo de Deus.
Receberam a ordenação de presbíteros os seguintes ordinandos: Vasco Alexandre Domingues Soeiro, do Seminário Maior do Porto, natural de Santa Maria Madalena em Gaia, que realizou o seu estágio pastoral na Paróquia de S. Lourenço de Ermesinde; Ariosto dos Santos Nascimento, do Seminário Redemptoris Mater, natural de Iguatú, Ceará, Brasil, que realizou o estágio pastoral na Paróquia de Santa Maria de Campanhã; Celestin Bizimenyera, Seminário Redemptoris Mater, natural de Murambi-Rulindo, Ruanda, que realizou o estágio pastoral na Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda na Vigararia de Espinho-Ovar; Pedro Manuel Gomes de Sousa, dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), natural de S. Tiago de Carvalhosa, Paços de Ferreira. Foi ainda ordenado Diácono Alfredo Tumbo Júnior, da Sociedade Missionária da Boa Nova, natural de Chibuto, Moçambique.
Numa celebração intensa e plena de significado estiveram presentes familiares e amigos dos ordinandos, muitos diocesanos das comunidades paroquiais que os receberam e tantos sacerdotes. Destaque para a presença dos bispos auxiliares do Porto, D. António Taipa, D. Pio Alves e D. António Augusto Azevedo.
Na sua homilia, D. Manuel Linda, partindo das leituras da liturgia do dia, sublinhou que os “contemporâneos e conterrâneos de Jesus têm dificuldade em aceitá-Lo”. “Veem nas suas raízes familiares, no conhecimento que tinham dele desde pequenino, motivo de admiração para agora fazer o que fazia” – disse o bispo do Porto acentuando que esta admiração se torna em escândalo.
“Também Jesus se admira” – frisou D. Manuel salientando o facto de os conterrâneos de Jesus nem sequer lhe terem dado o “benefício da dúvida”. E lá, na sua terra, Jesus não fez “qualquer milagre” – recordou.
Nesta passagem do Evangelho a problemática presente é a das “raízes” – disse o bispo do Porto. “Talvez se fosse um estranho, chegado não se sabendo de onde, e que, de um momento para o outro aparecesse, seria aceite” – declarou D. Manuel salientando que para os familiares de Jesus “parece que não há espaço” para O aceitar.
O bispo do Porto recordou que podemos aferir desta passagem evangélica que o “criticismo e o agnosticismo, incrédulos, têm dificuldade em conceber que Deus se possa revelar em Jesus de Nazaré”.
D. Manuel Linda referiu a possível interrogação lançada pelas gentes da terra de Jesus: “como é que naquele humilde” homem “chamado Jesus, Deus se pode manifestar?”
Jesus vem ao encontro de cada um de nós “não para apresentar uma doutrina e por isso não prega nenhuma religião” – disse D. Manuel – mas Jesus “vem ao encontro como pessoa portadora de específicas raízes para dizer a todos: ‘Quem me vê, vê o Pai’.”
A este propósito, o bispo do Porto sublinhou que para aqueles que abraçam a vocação sacerdotal “as raízes familiares” são importantes, pois “é a partir daí que nós somos pessoas concretas, portadores de um sacerdócio concreto, para a salvação de pessoas concretas.”
D. Manuel Linda recordou o Papa Francisco quando afirmou que ‘o padre não é, não foi e nunca pode ser um cogumelo’. O bispo do Porto lembrou que “o cogumelo praticamente não tem raízes”. “O cogumelo arranja para si próprio uma grande carapaça” para se proteger e não estar agarrado à terra – apontou.
“O padre não é assim” – disse D. Manuel Linda referindo para o sacerdote a imagem de um pinheiro que vive numa arriba da praia ou no meio de dois penedos “que parecem que não têm lugar, nem sustento, mas, entretanto, são a tónica de vida no meio daquela aridez”.
“Não queremos padres cogumelos, padres sem raízes” – declarou o bispo do Porto. “O padre, é um homem que nasce num determinado contexto humano e sem cortar as raízes com esse contexto, serve. É um homem que absorve os valores e a espiritualidade do seu povo. E vive a partir daí para o seu povo”– afirmou D. Manuel Linda.
Os padres que não têm raízes “nunca se conseguem relacionar com o seu povo” – disse o bispo do Porto apontando três características para os padres se relacionarem com o povo imitando Jesus: “rezar sempre”; “ser caminhante” a nível emocional, com o seu povo; “partilhar com o coração” e sentir com o coração para “escutar” o povo.
D. Manuel Linda sublinhou ainda outras três características mais concretas que devem ser vividas pelo padre: “ser um difusor de serenidade”, ser um “apóstolo de alegria” e anunciador da boa nova e ser um homem de “coração formado” para ajudar a “formar pessoas”.
O bispo do Porto, no final a sua homilia, citando S. João Maria Vianey, o célebre Cura de Ars, afirmou que “o padre não é para si”. Pediu aos novos sacerdotes para viverem “para o povo de Deus” e disse aos fiéis presentes na assembleia, que ali representavam o povo de Deus, para amarem os sacerdotes e nunca os tratarem mal.