«Quase todos os homens fazem uso apenas de uma pequeníssima porção da sua consciência e dos seus recursos espirituais, mais ou menos como um homem que tivesse contraído o hábito de usar e mover, de todo o seu organismo, apenas o dedo mindinho. Situações de emergência e de crise demonstram-nos que possuímos recursos vitais muito superiores ao que supúnhamos.»
Assim escrevia numa carta, datada de 6 de maio de 1906, o filósofo americano William James (1842-1910), um dos expoentes maiores do denominado “pragmatismo”. Trata-se de uma observação óbvia mas de que não damos conta.
Já desde a infância não desfrutamos de todas as potencialidades do nosso ser e, dessa forma, algumas das nossas capacidades permanecem, por assim dizer, ancilosadas. A própria escola não se empenha suficientemente para libertar todas as potencialidades dos jovens. Talvez nos preocupe mais cultivar o físico, com todos os seus recursos, ignorando a vasta gama de possibilidades da mente e do espírito.
James faz notar, além disso, que quando se está em tensão devido a uma emergência, nós próprios nos espantamos por realizar coisas que pensávamos que nos eram proibidas porque impossíveis. Isto pode valer também para o amor e para a fé.
Jesus tem uma frase sugestiva a propósito: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: “Arranca-te daí e planta-te no mar”, e ela havia de obedecer-vos» (Lucas 17, 6).
Muitos há que se reduzem a ser semelhantes ao detentor do único talento da famosa parábola de Cristo: enterram os seus dons deixando-os esterilizar, em vez de os fazer crescer e frutificar.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In “Avvenire”
Trad.: SNPC
Publicado em 08.12.2017