«Deixamos, cada vez mais, que a política seja capturada pela economia e pelos administradores do medo, a nova face da generalidade dos dirigentes políticos. E os cristãos portugueses nada têm a dizer? O medo paralisa-os e deixa-os a olhar para trás ou para os pés? Ficam sentados em casa, no sofá, como quase todos, a embrutecer com um entretenimento mediático sem qualidade, sem despender qualquer esforço para o dotar de espessura cultural?»
Estas são algumas das inquietações que motivam o Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto a realizar o ciclo de encontros “Desamordaçar o futuro – A voz dos cristãos no mundo contemporâneo”, que é inaugurado a 10 de novembro, na “Cidade Invicta”.
A iniciativa conta com «quatro perspetivas em debate», assumidas por Manuela Silva (professora aposentada do Instituto Superior de Economia e Gestão), P. Anselmo Borges (Universidade de Coimbra), André Barata (Universidade da Beira Interior) e José Rui Teixeira (Universidade Católica). O debate é moderado por Joaquim Azevedo, diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral da Cultura.
«Além da asfixia que parece envolver o presente, em que não se vislumbram caminhos claros para refazer a democracia e preservar a liberdade, existe ainda uma opressão que parece vir do futuro em direção a nós: tudo é incerto e tudo é instável, o quotidiano que se avizinha será cada vez mais turbulento, nada do que existiu até agora parece estar garantido no próximo futuro, a perspetiva de uma sociedade mais justa e solidária parece estar abandonada ou limitada a umas promessas mais ou menos vagas e adiadas e sediadas em pequenos grupos, quase sempre fora do campo mediático e do palco social e cultural. Renunciamos a pensar um futuro melhor, a construir o bem comum nas sociedades, paciente e decididamente, focando os nossos olhos e sonhos em cada dia que passa, olhando para os pés, sem esperança», assinalam os organizadores.
Perante o «medo do futuro» que aparentemente «paralisa», emergem questionamentos: «E os pobres e excluídos, que continuam a crescer, não nos convocam? Não os escutamos? E a cruz de Cristo, também deixou de ter sentido, neste presente desorientado e neste futuro a quem parece terem extraído o útero da esperança? Deixamos de ser homens e mulheres livres?».
Para se poder «pensar com alguma lentidão» sobre as questões acima mencionadas «e outras», o Secretariado Diocesano da Pastoral da Cultura do Porto promove em 2017 e 2018 uma série de encontros subordinados à temática: “desamordaçar o futuro”.
Nas sessões, que vão decorrer em algumas vigararias da diocese, serão abordadas duas perspetivas pela voz de dois conferencistas e um moderador: «Uma mais política, que diz respeito à participação dos cristãos na vida pública e na promoção do bem comum, e outra mais cultural, promoverá uma reflexão sobre o efémero e a nostalgia do absoluto na arte e na literatura e sobre a ideia de fazer das nossas igrejas [e das nossas vidas) caixas-de-ressonâncias para a beleza».
O primeiro encontro realiza-se entre as 18h30 e as 23h00 na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. As inscrições, obrigatórias, devem ser feitas através do endereço eletrónico sdpcultura.porto@gmail.com
Publicado em 01.11.2017