- A reflexão de S. Paulo (2 Cor 5,14), que inspira este terceiro ano do Plano Pastoral, resume e marca quanto se amplia e sugere nas páginas seguintes. A tradução latina do texto de Coríntios (Charitas enim Christi urget nos) pode ajudar a sublinhar ainda mais, não a precipitação, mas a indispensabilidade deste amor, num agora permanente.
Radicados em Deus, descobrimos o próximo; no encontro com o próximo abraçamos Deus (cf. Mt 25,31ss). O Papa emérito Bento XVI, na Encíclica Deus é amor, diz-nos que “o amor ao próximo (…) consiste precisamente no facto de que eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou que nem sequer conheço. Isso só é possível a partir do encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o sentimento” (DCE, 18).
E o próximo… está próximo e está longe: aí onde há um ser humano! Em primeiro lugar e especialmente, nos pobres de toda e qualquer pobreza. “Os cristãos são chamados, em todo o lugar e circunstância, a ouvir o clamor dos pobres”, recorda-nos o Papa Francisco na Exortação Apostólica A alegria do Evangelho (EG, 191).
- Percebe-se assim, com mais facilidade, que quando, por qualquer meio, damos as mãos para servir, não nos dispensamos, pessoalmente, do mandamento novo do amor (cf. Jo 13,34-35). Seria, com efeito, como dispensarmo-nos do amor a Deus. Dito de modo coloquial: tal como a esmola despersonalizada não é um ato de caridade, também a caridade organizada não paga a fatura das minhas obrigações para com o próximo.
A caridade organizada ou, dito globalmente, as instituições sociocaritativas só conseguirão garantir a sua matriz cristã na justa medida em que tenham na base a assunção dos valores do Evangelho por parte dos seus atores.
- O Plano Pastoral para o ano 2017/2018 convida-nos, com serena urgência, a um exame de consciência sobre toda esta realidade, que é muito mais que mera dimensão do seguimento de Jesus Cristo. O que está em causa não são apenas coisas, gestos, instituições. O que está em causa é a verdade da nossa condição de discípulos do Mestre. Por isso, afirma com clareza o Papa Francisco, “o testemunho da caridade é o caminho real da evangelização” (Homilia na visita pastoral a Campobasso, 05.07.2014).
As orientações, as propostas, as perguntas são apenas facilitadores de exame: adaptado, matizado, vivido de acordo com cada situação concreta; de acordo com a especificidade de cada comunidade; de acordo com o inalienável respeito devido a cada pessoa nos mais variados contextos.
O Plano Pastoral para este ano, somado aos anos anteriores e aos seguintes, convida a ler a realidade e a responder às perguntas que se levantam. O esforço conjunto de todos constrói e espelha a unidade da Igreja vivida no âmbito diocesano e na sua união à Igreja Universal.
Vamos iniciar, no Santuário de Fátima, em peregrinação diocesana, junto de Maria, a Mãe comovida com as dores e alegrias dos seus filhos e filhas, o 3.º ano do quinquénio do nosso Plano Diocesano de Pastoral 2015/2020.
Ali nos convidava o Papa Francisco, na homilia da Eucaristia de canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, a “descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica em amor” (cf. Homilia, Fátima, 13.05.2017).
Dissemos e cantámos, uma e muitas vezes, ao longo do ano que termina: “Com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria”. É isso que queremos continuar a fazer: olhar para além das paredes do templo e, movidos pelo amor de Deus, renovar, com alegria e generosa amplidão, a nossa relação com o próximo.
Confiemos de novo e sempre esta amada Igreja do Porto a Maria, Mãe da Igreja, para que nos sintamos movidos pelo amor de Deus e façamos, com renovado vigor e alargado horizonte de amor aos irmãos, da alegria do Evangelho a nossa missão.
Porto, 29 de junho, solenidade de S. Pedro e de S. Paulo, de 2017
António Francisco dos Santos, Bispo do Porto
António Bessa Taipa, Bispo Auxiliar do Porto
Pio Alves de Sousa, Bispo Auxiliar do Porto
António Augusto Azevedo, Bispo Auxiliar do Porto